Centenas de jornais impressos continuam saindo regularmente no Brasil, 50 deles com circulação auditada pelo Instituto de Verificação de Comunicação, o IVC. Mas o número de exemplares desabou tanto nos últimos cinco anos que a leitura não pode ser menos pessimista: a impressa de papel está pela hora da morte. Entre dezembro de 2014 e outubro deste ano, a circulação dos nove principais jornais brasileiros teve uma queda média de 50,7%.
A perda mais acentuada de circulação, entre os nove maiores jornais, foi registrada no Estado de Minas. O mais antigo veículo mineiro de imprensa está chegando ao final de 2019 com média de apenas 16,4 mil exemplares, uma tiragem irrisória para um estado com mais de 20 milhões de habitantes. No último mês de 2014, o “grande jornal dos mineiros” imprimia mais de 55 mil exemplares. O recuo em cinco anos foi de 71%.
A sangria mortal não poupou nem o jornal de maior circulação no país, o mineiro Super Notícias, que encolheu 51%. Um dos maiores sucessos editoriais no país, o jornal popular que chegou a tirar mais de 400 mil exemplares teve a sua tiragem em outubro passado reduzida a 140.187 unidades, uma queda de 51% em relação a cinco anos atrás. Os outros jornais mineiros com circulação auditada , Aqui e O Tempo, não constam do gráfico obtido pelo site Os Novos Inconfidentes.
Fatores culturais e econômicos explicam a morte anunciada dos jornais de papel. Os leitores migraram para a internet, inviabilizando o modelo de produção da imprensa tradicional. Hoje, o surpreendente não é a agonia e sim a sobrevivência dos grandes jornais brasileiros. Como eles ainda se mantêm em pé e continuam saindo, mesmo ralos e com poucos exemplares?
Eles resistem porque há grandes anunciantes que ainda não se adaptaram à comunicação digital e persistem na publicidade tradicional. É o caso de governos e instituições. Em Minas, entre 2015 e 2018, enquanto a circulação desabava, o governo Pimentel priorizou os jornais de papel em relação às mídias digitais na distribuição da propaganda oficial. As razões de Pimentel para concentrar verbas em veículos decadentes? As mesmas de outros governadores, prefeitos e etc em todo o país: a força do hábito.